quarta-feira, 5 de outubro de 2011

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC)


Crônica de Fabrício Carpinejar

Publicado no em jornal local
Coluna semanal, 27/09/2011
Porto Alegre (RS)

Se você já foi um universitário ou tem um filho na universidade, entende o valor da temida sigla TCC.

TCC é tudo. O resto é nada. Você é nada, uma ameba, um protozoário perto de um TCC.

O Trabalho de Conclusão do Curso é a greve de existir do jovem. Faz o vestibular parecer um feriado.

O TCC é a TPM do Ensino Superior, a cadeira derretida do inferno, a desculpa para não realizar mais nada.

Não se vive com um TCC. A monografia final da graduação é a fita azul que enrola o canudo, é a provação derradeira para emoldurar o diploma, é o que separa o capelo do céu.

Na teoria, a tarefa se exibe fácil. Arrumar um tema, depois juntar material de pesquisa, atender aos conselhos de um professor orientador e, por fim, escrever 60 páginas. O fim nunca se encerra. No momento de pôr as ideias na tela, o último semestre demora mais três e o pânico devora as letras do teclado como um vírus.

O TCC é o Gulag do adolescente, o exílio solar, a solidão noturna. É o bilhete de suicídio prolongado em livro. É o mesmo que receber simultaneamente a notícia de gravidez e esterilidade.

Não se é humano com o TCC. É um crime se divertir, arejar a cabeça, brincar durante o período. A expectativa de solucionar um problema da carreira a partir de um texto acadêmico torna-se o problema. O futuro ganha o sinônimo de PRAZO ESGOTADO. A esperança tem o subtítulo ANOTAR ALGUMA COISA, QUALQUER COISA, POR FAVOR, ME AJUDA. O sujeito não tem mais passado, mas BIBLIOGRAFIA. Não existe lembrança, e sim FONTE.

Muito fácil reconhecer o graduando na rua. Andará vagaroso, vidrado nos cadarços soltos do próprio tênis, rosto maltratado, remela nos olhos, roupas sobrepostas de quem se acordou agora e pegou as primeiras peças pela frente. Demonstrará irritação e uma dificuldade de entender a lógica do idioma. É um poço de culpa, ou porque não dormiu para estudar, ou porque dormiu e não estudou.

Algumas respostas básicas de um universitário redigindo o TCC:

Você namora? – Não posso agora, estou preocupado com o TCC.
Vamos tomar um café no fim de tarde e pôr o papo em dia? – Não dá, tenho que fazer o TCC.
Que tal Green Valley no domingo? – Nem pensar, estou com o TCC parado.
Topa churrasco de noite? – Nunca, não avancei no TCC.
Um cineminha hoje, para descontrair um pouco? – Desculpa, estou atrasado para o meu TCC.
Onde você está? – Tentando achar uma posição confortável para escrever meu TCC.
Você leu a crônica de Carpinejar (...)? – Não, só leio o que interessa ao meu TCC.

Mestre Antônio Endler

      No último dia primeiro de outubro perdemos um de nossos mestres do Curso de Design. O designer Antônio Endler será sempre lembrado, especialmente por aqueles que foram seus alunos e que puderam compartilhar de seus ensinamentos. Natural de Carazinho, atuou no início dos anos 2000 em nosso curso quando esse possuía a habilitação de Programação Visual. Devido a problemas de saúde teve que afastar-se da atividade, "para dedicar-se integralmente pela sua vida" como o próprio afirmava.
     Nossa pequena homenagem e nossos sinceros sentimentos aos parentes e amigos.

ANTÔNIO ENDLER - (1971-2011)